“Hiperpersonalização” no jornalismo por meio de Inteligências Artificiais é apresentado no Congresso UFBA 2023

Na semana passada rolou Congresso UFBA 2023 ~ com pontapé na porta da pesquisa ~ e foi muito revigorante!

Participei de três mesas com pesquisadores do GJOL.

Na quarta, 15/03, participei da mesa “Plataformas de streaming e consumo cultural contemporâneo” junto com Joseph Straubhaar (UTexas em Austin), Suzana Barbosa (GJOL), Katia Morais (UNEB), Maíra Bianchini (UFBA). Discutimos o poder dos algoritmos nas plataformas de streaming. Defendi que o uso desses algoritmos, combinado com os milhares de tags e perfis gerenciados pelas próprias plataformas, podem criar uma “hiperpersonalização” (assim, junto) e experiências potencialmente únicas de consumo para cada usuário.

Na quinta, 16/03, participei da mesa “Projeto #AcesseJor: Protocolo de Inovação social para o Jornalismo Digital”. A mesa foi composta por pesquisadores de todo Brasil, como Suzana Oliveira Barbosa (GJOL), Carla Tonetto Beraldo (GJOL), Kati Eliana Caetano (UTP), Rodrigo Do Espírito Santo Da Cunha (UFPE), André Holanda (UFRRJ), Fernando Firmino Da Silva (UFPB), José Ednilson Almeida Do Sacramento (UFBA), Alexandro Mota (GJOL), Mariana Menezes Alcantara (GJOL), Raiza Tourinho (GJOL), Washington José Da Silva Filho (GJOL).

Hiperpersonalização no jornalismo por meio de Inteligências artificiais

Ainda na quinta, apresentei, com ajuda de Paulo Markun (GJOL) e Pedro Markun (hacker e historiador), a mesa “Inteligências Artificiais (IAs) e Produção de texto: o futuro da escrita jornalística”. Nesta mesa, apresentamos projeto experimental mostrando a potencialidade de hiperpersonalização de conteúdo jornalístico com ajuda de inteligências artificiais generativas. Na oportunidade, utilizamos o ChatGPT para evidenciar essa hiperpersonalização.

Em breve publicaremos um artigo com os dados apresentados.

Até lá, pode assistir nossa apresentação no Youtube do GJOL:

O (bom) jornalismo não perdoa ninguém

O papa é pop e o jornalismo não perdoa ninguém” – já dizia aquela bandinha famosa nos idos anos 1980/90… ou quase isso.

Foi-se o tempo em que estudantes secundaristas – apaixonados – sonhavam em entrar nas faculdades de jornalismo Brasil afora por causa do “glamour” da profissão na telinha! “Plim plim!” Me recordo, como ontem, que ao entrar na Faculdade de Comunicação da Ufba (um dos lugares que mais amo na vida) muitos parentes, amigos e conhecidos me abordaram, em momentos diferentes mas em sintonia, com a seguinte frase: “e ai, quando vai trabalhar na Globo?! Quando vou te ver no jornal?!”.

Assustado, a pergunta me lançava ao lugar comum do que deveria ser o jornalista, e, além de estranha, não caia bem aos meus ouvidos e muito menos encontrava eco em meus neurônios juvenis. Resultado: eu bugava!

A tela azul do Windows aparecia.

Pois, devo esclarecer, não foi Willian Bonner, todo engomadinho na minha TV, o motivo pelo qual desejei fazer jornalismo. Para ser franco, no momento que entrei na Facom, nem eu mesmo sabia direito o que estava fazendo ali – aliás, como quase todo jovem no começo da faculdade: era um lugar estranho, com gente esquisita e que lia Adorno, McLuhan, Mafessoli, Tom Wolf, Capote, Traquina, Bourdieu etc. E, assim como quase todo jovem na faculdade – pelo menos os que conheci-, só fui descobrir o que estava fazendo ali já quase no meio do curso. Antes tarde que nunca, mas descobri.

Descobri uma cachaça pior que a original água ardente: a informação de qualidade, com pitadas de pensamento complexo.

O bom jornalismo vestido de palhaço mata oito

Fazer um jornalismo de qualidade é muito fácil, ao contrário do que muitos dizem: ele requer honestidade, curiosidade e apuração. Com essas três ferramentas na mão é possível lapidar um diamante bruto em uma baita reportagem.

Dito isso, para fazer um bom jornalismo será sempre difícil: ninguém quer que informações sensíveis sejam divulgadas ou que alguns nomes sejam comprometidos pelo brilho irradiado do bom jornalismo. E quando isso acontece, quando o jornalismo mata 8 em roupa de palhaço, os jornalistas são acusados de “politicagem”. De repente, o jornalismo não é mais jornalismo: se divulga algo comprometedor, mesmo com interesse público, é logo taxado de partidário ou de “propagador de fake news”. Aff!

Lamento dizer, mas, o papel do jornalismo não é agradar as pessoas, nem mesmo ao leitor. O papel do jornalismo é oferecer a verdade em uma bandeja de prata à sociedade. Por isso, o jornalismo é um cão de guarda: ele pode morder até mesmo seu cuidador! E, precisamos defender que continue assim. Uma democracia não sobrevive sem um jornalismo mordedor, implacável e independente. Quando alguém acusa o jornalismo de querer o mal (ou coisa pior), desconfie. Certamente essa pessoa é alvo fácil do nosso anão vestido de palhaço.

ps: Dancemos!

Onde está o jornalismo quando mais precisamos dele?

Enquanto jornalista, muitas vezes sentado nas redações da vida e com os dedos sobre os teclados, foi saboroso pensar que estava desempenhando meu papel de vigilante – com o peito bem estufado e montado em um cavalo branco – nessa industrial vital. Mas, deixando de lado o amor que me conectou com a profissão na Faculdade, hoje posso ver que, especialmente nos últimos anos, o jornalismo anda sumido, tímido e acanhado, e não mais desempenha um papel de vigilância, de 4º poder… como era antes imaginado.

Não, o jornalismo não está acabando ou, parafraseando Nietzsche, “está morto”. Para se tornar uma linda borboleta multicolorida e feliz, ele, nesse exato momento, está em metamorfose.

Fake News is the new black

Por vezes, é complicado explicar, até mesmo para um bom jornalista, um daqueles bem antenados em tudo que acontece na profissão, que as fake news, essas maltrapilhas danadinhas que ajudam a eleger presidentes, foram um marco tão ou mais importante que a revolução digital da informação para o jornalismo. Talvez, e ai viajo na maionese, bem como muitos colegas pesquisadores, esse movimento de criação e divulgação de fake news quiçá seja a maçã podre no cesto que vai mostrar o quanto um bom manejo é preciso para termos, no futuro breve, uma boa safra. Por favor, sem agrotóxicos!

Nesse exato momento, ainda é pedir demais que o jornalismo nos salve. É pedir demais que os jornalistas saibam como lidar com as polarizações que correm para todos os lados. O jornalismo, somente agora – antes tarde que nunca -, está começando a montar as redes de controvérsias e aprendendo a interagir com os diferentes atores que fazem circular as novas associações de informações, sejam elas basilares das fake news ou não.

Então, pra resumir a história, “onde está o jornalismo quando mais precisamos dele?” Está aprendendo a ser jornalismo. Um novo jornalismo ou (para não confundirmos com a escola new journalism de Gay Talese, Ton Wolfe e cia) um jornalismo moleque.

Não seria demasiado afirmar que o jornalismo ainda terá papel importante na civilização contemporânea. Talvez não venha a ser o salvador da pátria. Contudo, ele pode, pelo menos, ajudar a colocar o dedo sobre aqueles que não fazem bem ao nosso pomar.